Fisioterapia pode retardar o avanço das doenças, minimizar os efeitos motores e cognitivos, e promover a independência do paciente
Por: Nova Sudeste Fonte: Fernando Fraga
A busca pela longevidade segue como pauta importante para o ser humano. Quem não quer ganhar mais tempo de vida? A ciência segue debruçada em estudos para oferecer a melhor condição de vida às pessoas. Entretanto, quanto mais se vive, aumenta a chance também de enfrentar as fragilidades naturais do envelhecimento. Entre as demências que mais assustam está o alzheimer. Para se ter uma ideia, no Brasil há 1,2 milhão de diagnósticos confirmados e a cada ano surgem 100 mil novos casos. O que poucos sabem é que a fisioterapia é uma aliada no tratamento da demência.
Segundo a fisioterapeuta Larissa Abrahão, formada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a fisioterapia vai trabalhar para oferecer ao paciente com alzheirmer condições para que ele possa manter a mobilidade, a força muscular e autonomia. “Qual é o ganho? Além de reduzir o risco de quedas, melhora a qualidade de vida”, destaca Larissa Abrahão. Ela frisa ainda que através de exercícios específicos, a fisioterapia pode retardar a progressão da doença, minimizar os efeitos motores e cognitivos, e promover a independência do paciente em atividades do dia a dia.
“A partir dos 30 anos, o corpo começa o processo de perda progressiva de massa muscular e se acentua no idoso, tornando-se um quadro chamado sarcopenia – perda de massa e força muscular que ocorre de forma progressiva e natural com o envelhecimento -. A partir disso, vamos ter redução da força muscular que pode impactar no equilíbrio do indivíduo aumentando o risco de queda, aumento de hospitalizações e impacto metabólico visto a chance de agravar doenças como diabetes e obesidade. A soma de todos esses sintomas vai levar a uma perda de mobilidade e autonomia na vida desse idoso que vai se tornar mais dependente para realizar as suas atividades de vida diária, o que pode contribuir para casos de depressão e ansiedade. Por esta razão, o exercício físico é necessário ao longo de toda a vida e principalmente na terceira idade para a manutenção da força muscular e de uma melhor qualidade de vida para essas pessoas”, explica a fisioterapeuta Larissa Abrahão.
Questionada como a fisioterapia pode reduzir o risco de quedas no paciente de alzheimer, Larissa Abrahão disse que o alzheimer é uma doença degenerativa progressiva que afeta o cérebro e causa perda de memória, confusão mental, alucinações, perda de interesse nas atividades e quando atinge áreas responsáveis pelo controle motor, podemos ter comprometimento no equilíbrio, alterações na marcha, perda de força muscular e alterações na coordenação motora. “A fisioterapia, através de exercícios de equilíbrio e coordenação, muitas vezes incorporando atividades lúdicas que também estimulam a parte cognitiva, exercícios resistidos com foco na força muscular e melhora da marcha, vai ser fundamental para a redução desse risco, uma melhor qualidade de vida nos pacientes afetados pela doença, além de proporcionar mais segurança e tranquilidade para os cuidadores e familiares”, avalia Larissa Abrahão.
Sobre a contribuição da fisioterapia para a manutenção da independência e da autonomia do paciente diagnosticado com alzheimer, em atividades do dia a dia, como higiene pessoal, alimentação e vestimenta do paciente de alzheimer, Larissa destaca que embora a demência, incluindo a doença de Alzheimer, seja progressiva e sem cura, a fisioterapia, integrada a uma abordagem multidisciplinar, atua nas alterações motoras decorrentes da doença e pode desempenhar um papel importante na promoção da funcionalidade e na qualidade de vida do paciente, fato que também ajuda na saúde mental.
De acordo com Larissa, a fisioterapia pode incluir atividades que estimulam a cognição, como os exercícios de dupla tarefa, que associam movimentos físicos a desafios mentais como, por exemplo, caminhar enquanto se realiza um cálculo simples ou nomeia objetos. A fisioterapeuta afirma que essas estratégias ajudam a manter o cérebro ativo, estimulando a memória, a atenção e o raciocínio, e promovem maior engajamento no tratamento. “Portanto, mesmo que a fisioterapia não interrompa a progressão da demência, ela é fundamental para estabilizar o quadro funcional e contribuir indiretamente para a manutenção das habilidades cognitivas, melhorando o bem-estar geral do paciente”, frisa Larissa.
A fisioterapia também pode contribuir para aliviar dores e desconfortos. “A fisioterapia tem um papel fundamental no tratamento de dores e desconfortos, que muitas vezes comprometem a funcionalidade, a mobilidade e a qualidade de vida do indivíduo. A dor pode ser incapacitante, levando o paciente a evitar atividades do dia a dia, inclusive aquelas que promovem bem-estar físico e emocional. Dessa maneira, diversas técnicas, como o TENS, liberação miofascial, mobilização articular e massoterapia, podem ser utilizadas a partir da avaliação individualizada feita pelo profissional que vai identificar as causas e características da dor. É muito importante destacar que essas técnicas, apesar de eficazes, a melhor técnica para a dor é a cinesioterapia, ou seja, o exercício terapêutico, pois atua na modulação central da dor, estimula a liberação de endorfinas – analgesicos naturais -, mantém o indivíduo ativo, além de aumentar a força muscular. Portanto, a fisioterapia não apenas trata a dor, mas busca suas causas e previne recorrências, sempre respeitando a individualidade de cada paciente”, pontua Larissa.
A respiração pode ser trabalhada pelo profissional de fisioterapia junto aos pacientes de demência. A partir da avaliação individualizada, se o profissional identificar distúrbios respiratórios, a fisioterapia vai ser uma aliada na melhora dessa funçãoespecialmente em pacientes com doenças pulmonares, neuromusculares, cardíacas ou em situações de pós-operatório. “Esses pacientes vão se beneficiar de técnicas específicas para otimizar a ventilação pulmonar, facilitar a eliminação de secreções, promover a expansão pulmonar, melhorar a oxigenação e fortalecer os músculos respiratórios. “Técnicas como exercícios respiratórios, reeducação diafragmática, uso de incentivadores respiratórios como EPAP – Pressão Expiratória Positiva nas Vias Aéreas -, dispositivos que promovem a tosse e a eliminação de secreções como o shaker, dispositivos de pressão positiva como o CPAP – Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas -, bastante utilizado na apneia do sono, são algumas das ferramentas utilizadas, de acordo com a condição clínica de cada paciente. Vale destacar mais uma vez, a importância do exercício físico que também vai ser fundamental na reabilitação desses pacientes, principalmente em questão da melhora da função física” conclui Larissa.