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A importância da logística para o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas no Brasil

A importância da logística para o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas no Brasil

Por Julianna Coelho

Muito além dos laboratórios e dos centros acadêmicos, o avanço da ciência e da tecnologia no Brasil também passa pelas estradas, portos, sistemas de armazenamento e redes de transporte. A logística, muitas vezes invisível ao grande público, é peça-chave para o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas no país — especialmente em um território de dimensões continentais como o brasileiro.

Do transporte de equipamentos sofisticados à conservação de amostras biológicas, passando pela distribuição de insumos e até o deslocamento de pesquisadores para áreas remotas, a eficiência logística pode determinar o sucesso (ou o fracasso) de um projeto científico.


A ciência também depende de infraestrutura

Segundo dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), grande parte das pesquisas financiadas por agências públicas no Brasil depende de infraestrutura logística para funcionar plenamente. Isso inclui desde a importação de reagentes químicos até a entrega de componentes tecnológicos para universidades e institutos.

“O pesquisador brasileiro enfrenta desafios que vão muito além da produção intelectual”, afirma a professora Ana Carolina Bittencourt, coordenadora de um projeto de biotecnologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Muitas vezes, precisamos esperar semanas ou meses por insumos que, com uma logística mais ágil, chegariam em dias.”


Barreiras e gargalos

Entre os principais entraves estão a burocracia alfandegária, a escassez de transporte especializado para materiais sensíveis, a falta de integração entre modais logísticos e a distância entre centros urbanos e regiões de campo — como áreas de floresta, cerrado e zona costeira, onde se concentram importantes pesquisas ambientais.

Projetos da Embrapa, da Fiocruz e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), por exemplo, frequentemente enfrentam dificuldades para levar equipamentos até locais de coleta ou garantir o retorno seguro de amostras para análise laboratorial.

“Sem um sistema logístico eficiente, o Brasil perde tempo, dinheiro e competitividade científica”, alerta o engenheiro de produção Paulo Noronha, especialista em gestão de cadeias de suprimento.


Avanços e soluções integradas

Nos últimos anos, algumas iniciativas públicas e privadas têm buscado integrar a logística às necessidades da ciência. Parcerias entre universidades e empresas de transporte, investimentos em hubs logísticos para laboratórios e o uso de tecnologias como drones, rastreamento em tempo real e containers climatizados estão entre as soluções que vêm sendo testadas.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) também discute a criação de uma política nacional de apoio logístico à pesquisa, com foco em agilidade, segurança e eficiência. A proposta prevê incentivos fiscais para o setor logístico que atenda à demanda científica, além de desburocratização para o transporte de cargas laboratoriais.


Pesquisa e desenvolvimento como motor estratégico

Em um país que busca ampliar sua presença no cenário científico internacional e atrair investimentos em inovação, fortalecer a logística da ciência é uma estratégia de impacto direto. “Sem uma base sólida de apoio, não há pesquisa de ponta que se sustente”, resume a física e pesquisadora Letícia Duarte, membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A mensagem é clara: para que a ciência avance, é preciso que ela chegue onde precisa — e isso depende, em grande parte, da logística.

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