Cannabis em Cuidados Paliativos: A Vitória de 91% dos Pacientes Contra a Dor
Coluna: Cannabis : cuidado e equilíbrio Por: Dra Amanda Medeiros
Na medicina paliativa, nossa meta fundamental é devolver a dignidade. O maior obstáculo para isso é o fardo da dor crônica e o uso muitas vezes inevitável de opioides. Por isso, o estudo israelense, um dos maiores do mundo sobre o tema, não é apenas um artigo científico, mas um marco que transforma nossa prática clínica.
Trata-se de uma análise prospectiva publicada no European Journal of Internal Medicine, que acompanhou 2.970 pacientes oncológicos em Israel entre 2015 e 2017. Mais da metade desses pacientes estava em estágio avançado da doença, cinquenta e um por cento em estágio IV, o que torna os resultados ainda mais impactantes.
O dado mais transformador é a segurança e a capacidade de substituição. Estamos falando de oferecer ao paciente mais do que alívio, estamos oferecendo autonomia e qualidade de vida. A pesquisa mostrou que, após seis meses de tratamento com endocanabinoides, os pacientes não apenas melhoraram como reduziram de forma expressiva o uso de medicamentos mais perigosos.
Trinta e seis por cento dos pacientes conseguiram suspender completamente o uso de opioides, e outros dez por cento reduziram a dose. São medicações de alto risco de dependência e efeitos colaterais severos, como a morfina. O estudo concluiu ainda que a cannabis medicinal é bem tolerada e segura, com efeitos colaterais leves e previsíveis, como tontura em oito por cento dos casos e boca seca em sete vírgula três por cento, sem registros de eventos adversos graves.
A eficácia da cannabis vai muito além da analgesia. Ela atua de forma multifacetada, algo essencial em cuidados paliativos, onde os pacientes convivem simultaneamente com dor, náusea, insônia e falta de apetite.
A dor severa, definida como níveis oito a dez na escala de dor, teve uma redução impressionante de noventa e um por cento na prevalência. É um dado que não deixa margem para interpretações.
O bem-estar subjetivo é a grande vitória. A percepção de qualidade de vida considerada “boa” saltou de dezoito vírgula sete por cento para sessenta e nove vírgula cinco por cento após seis meses de tratamento.
A medicina paliativa não busca a cura, busca dignidade. O paciente troca um fardo pesado de efeitos colaterais por uma ferramenta de bem-estar. A cannabis, além de controlar a dor, devolve o apetite e o sono, benefícios que os opioides, em geral, não promovem.
Por isso, este estudo é um dos pilares que sustentam nossa prática clínica. A cannabis medicinal não é um tratamento alternativo, é uma ferramenta central e cientificamente validada para devolver dignidade ao paciente oncológico.
Dra. Amanda Medeiros
Médica graduada pela Universidade Iguaçu (RJ), com pós-graduações em pediatria, nutrologia pediátrica e psiquiatria da infância e adolescência. Possui certificação internacional em medicina endocanabinoide pela GreenFlower, na Califórnia, e formação avançada em endocanabinologia pelo Instituto Plenos. Com mais de dois mil pacientes ativos, prescreve medicamentos à base de canabinoides, atua como mentora de outros médicos e participa de projetos humanitários no Brasil e no exterior.

Dra Amanda Medeiros, médica com certificação internacional em medicina endocanabinoide


